segunda-feira, 6 de agosto de 2012

A grande pirâmide



Escalo as paredes desta grande pirâmide erigida sobre o oásis que habita o lugar onde antes jazia um deserto de emoções. Foi construída por mim, pedra sobre pedra, sem fazer escravos, mas sacrificando algumas gotas de sonhos, rasgando pele e músculo até à camada mais fina do véu da alma.
Danço agora no topo dessa pirâmide, donde avisto todo o horizonte que circunda esta terra vermelha de sangue e pó. E nessa dança ensaiada nos mil e um dias e noites em que fui odalisca numa tenda vazia, renasço esfinge com garras de condor, olhar de leoa e corpo de mulher.
Sussurrando, para não acordar as serpentes que trazem o veneno da solidão, espalho enigmas por entre os ventos nómadas que atravessam esta rota.
Podia esperar, aninhada no tempo dos milénios, pelas respostas que eventualmente surgiriam, trazidas pelas caravanas que se aventuram nos trilhos arenosos...
Mas enquanto esperava, cruzando as eras, as areias do tempo iriam cobrir, sem piedade, as minhas pegadas, apagando o rasto que liga o meu passado e o meu presente
Assim, desço a grande pirâmide, e com a minha força de leoa e sedução de mulher, construo novos amanhãs em forma de templo onde celebro o hoje e presto devoção à Deusa Vida...

Mikashi

1 comentário:

  1. Que bonito!
    E o que mais pode ser a vida? Viver é escalar montanhas, vencer barreiras, dar o nosso suor diário e bendito. É nunca deixar de se pertencer, é buscar o nosso lugar ao Sol.

    Mikashi, um abraço!

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