Medo...que te instalaste qual sem-abrigo na cave da minha alma,
sem pedir licença ou pagar renda...
Que criaste um
Mundo só teu neste lugar, durante anos, esculpido e trabalhado com
perfeição
Medo...que te conheci jovem, foste
envelhecendo com mais requintes de inquilino vitalício
E
ousaste reclamar direitos que nunca foram teus mas aos quais cedi,
pensando que um dia partirias
Medo... tentei
esquecer a tua presença, mas não consegui deixar de ouvir os teus passos
inquietos
Num ritmo desconcertante, alinhado com o passar das horas das
madrugadas e dos dias incertos
Medo...hoje acordei de novo com o teu assobiar em tom de
adagio, ressuscitando as insónias
Mas não fiquei na
cama à espera que adormecesses...
Vesti o roupão,
calcei os chinelos, acendi a luz...e desci até à tua cave...
Apanhei-te de surpresa, a passar a tua roupa a ferro. Nem
esperei que dissesses algo. Abri as portadas que dão para a rua, deixei o
Luar entrar e convidei-te para vires tomar um chá...após o qual te
entreguei uma carta de despejo, por uso indevido de espaço e usurpação
de lugar alheio! Não te dei nem mais um dia... Chamei um táxi e nem
esperei que desaparecesse no horizonte....Virei costas e fui arejar
aquele local, esquecido pelo tempo e favorito dos aromas bafientos.
Agora há que dar novas cores a esta minha cave...e enchê-la com novas moléculas de Vida!
Mikashi