(fotografia cedida por AC)
A chuva caía em bátegas, alagando as pedras da calçada, sem
deixar espaço para caminhar em terreno seco. Isabel largou os sacos à beira da
ponte, exausta da caminhada que a trouxe desde a mercearia até ali, a meio
caminho até à sua casinha que já avistava do outro lado do rio, com o seu
Nestor, fiel amigo, no portão, de olhar atento a ver se via a dona.
A chuva continuava a cair impiedosa e o rio corria veloz,
como que fugindo da tempestade que o fustigava. Isabel sabia que só faltava
atravessar aquela ponte para estar mais próxima do aconchego do seu lar. Mas em
toda a sua vida, sempre teve dificuldade em atravessar pontes, em deixar o
caminho percorrido e aventurar-se no que está para lá da travessia. Podia ter
saído daquele lugar há anos, podia ter continuado a estudar, podia ter ido
atrás do amor da sua vida que emigrou e não voltou mais. Podia, mas nada fez,
porque isso implicava atravessar aquela ponte e seguir pela estrada fora, sem
olhar para trás. Atravessar pontes inquietava Isabel, tendo preferido hipotecar
a sua Vida a pagar a portagem na estrada dos Sonhos…Mikashi Carol